Elementar, meu caro Watson

Você já ouviu essa frase? Ela é um jargão do famoso detetive Sherlock Holmes, sempre que ia explicar como ele havia chegado a uma conclusão sobre um crime. Os grandes detetives da literatura, ou as séries e filmes de televisão que envolvem mistérios, sempre chegam a uma conclusão através de evidências. O que são evidências? 

Um filósofo grego pode sugerir que evidência é tudo o que pode ser observado, racional e lógico; para um fundamentalista, é o que você conhece como verdade; um pós-modernista, o que você experimenta; um advogado, tudo o que prova ou nega a existência de um fato e que possa ser aceito em corte; para os cientistas, são informações adquiridas através de observação, experimentos e pesquisas.  

Mas como a escola pode estar ligada a evidência? Simples: num mundo que está em constante transformação, não podemos promover mudanças ou melhorias baseados em achismos. Precisamos estar vivenciando processos que envolvem criação, produção, avaliação, feedback e re-construção, ocorrendo cíclica e constantemente. Para que isso aconteça, escola e família precisam estar em constante comunicação em prol da observação – Olha o Grego! – dos alunos. Como está o seu desenvolvimento em sala? O que a família observa nesse sentido das interações em casa? É preciso exercer uma parceria para ir em busca da verdade sobre a aprendizagem de nossos alunos. Será que essa verdade não muda? Se aprendemos, estamos em constante mutação. As mudanças de comportamento, de  papo com os amigos e familiares podem ser evidência de que aprendizagens significativas estão acontecendo na vida de nossos filhos. Quantas vezes não nos surpreendemos com algo que nossos filhos colocam em uma conversa corriqueira e nos pegamos pensando: como é que ele sabe isso? 

No século 21, isso acontece constantemente, não é mesmo? Pois é. As crianças não são mais as mesmas. Estão mais questionadoras e curiosas. Por isso, os ambientes educacionais – escola e casa também precisam estar conectadas a essas mudanças. A educação baseada em evidências acontece em uma sala de aula que respira vitalidade e movimento. Não o movimento literalmente físico, mas o movimento de saberes. Se imaginarmos o número de crianças por sala de aula mais toda a convivência que elas têm em casa até chegar à escola, podemos ter uma vaga ideia do quanto essa criança já traz de conhecimento para a sala de aula. Esse é o saber prévio. Aquele que já temos informalmente, porque ele ainda não foi ensinado na escola, mas porque conversamos muito com nossos pais, avós, tios, já aprendemos em casa. Esse conhecimento não pode ser ignorado e precisa ser valorizado. Numa sala de aula em que a aprendizagem é feita baseada em evidências, o conhecimento prévio é valorizado, respeitado, e, através da avaliação do professor, pode ser utilizado como base para a construção de outros saberes. A escuta ativa é ferramenta essencial para o desenvolvimento porque, através dela, podemos ouvir, comparar o que ouvimos com o que já sabemos previamente, esboçar nossa opinião, receber feedback sobre o que colocamos e construir o que estamos aprendendo, colaborativamente.  

Uma aprendizagem baseada em evidência precisa coletar dados para construir o caminho para o conhecimento. Por exemplo, uma turma que está estudando as mega cidades em Geografia, pode aprender as características da urbanização através da análise de dados e construção de gráficos sobre isso. Eles estão aprendendo através de evidências. A aprendizagem baseada em evidências requer muita pesquisa, observação, trabalho de questionamento sobre o que é considerado verdade. Isso pode ser feito individualmente ou em grupos. Quando ela se faz presente em sala, alunos e professores se conhecem melhor porque precisam ouvir melhor uns aos outros. Ela se dá de forma clara e objetiva porque o professor precisa ser explícito com relação aos seus objetivos. Ela envolve mais os alunos como sujeitos do próprio aprendizado, porque os convida a refletir sobre ela e como ela modificou ou agregou a quem ele é, ou como modificou sua forma de ver o mundo. Assim, todos passam a fazer maiores conexões e estabelecer mais relações significativas.  

 Assim como os alunos vão coletando dados e informações durantes as aulas e os trabalhos escolares, o professor também vai coletando evidências em sala para saber o que e como ele pode abordar novos conteúdos, ou se precisa revisar o que já foi visto. Para coletar essas informações, ele precisa avaliar os alunos de formas diversas, sendo formal ou informalmente. Isso pode ocorrer através da observação da participação dos alunos em sala, testes, trabalhos e atividades práticas. É através dessas avaliações diárias que o professor pode coletar evidência do aprendizado dos alunos, pensar sobre a necessidade de novas abordagens ou até mesmo de revisão. Tudo se dá de forma muito natural, porque os momentos de avaliação são simples e essenciais para a interação e comunicação eficaz dos conteúdos feita por todos os envolvidos.  

A coleta de informações e dados ajuda os alunos a focarem mais em seus pontos fortes e de crescimento, baseados no feedback de colegas e professores, bem como, melhora a capacidade de planejamento e programação do professor, que passa a ter, também, a possibilidade de aplicar um trabalho mais individualizado e que atenda às necessidades de cada um.  

A aprendizagem baseada em evidências nos convida a uma reflexão contínua sobre o que sabemos e como aplicamos esse saber. Ela nos lembra que aprender nunca para e que todos nós somos capazes de crescer e desenvolver competências. Esse crescimento parte de nós porque podemos, então, exercitar a nossa capacidade de questionamento, reflexão, escuta, comunicação e movimento. Você pode pensar: onde? Como? Na escola, em casa, onde nos colocamos prontos a ir em busca. Em busca de saberes, do diálogo, da partilha. Isso é o que apontam estudos e evidências. Elementar? Não. Mas possível. Juntos, tudo é possível. 

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